




“Diário de Sintra” é um documentário, mas um diferente da maioria do gênero. Não há nomes que apresentem as pessoas na tela, indicação de data ou um discurso linear. No filme de Paula Gaitán, viúva e mãe de dois filhos de Glauber Rocha, quem fala é a voz de uma mulher que perdeu, 25 anos antes, um grande amor.
Para fazê-lo, Paula voltou a Sintra, a pequena cidade portuguesa onde viveu com o cineasta e as crianças em uma espécie de autoexílio. O ano era 1981 e a época foi de intensa produção para Glauber. A família viveu lá até que ele, doente, teve de ser trazido de volta ao Brasil. O diretor morreria no dia seguinte ao desembarque.
Como a própria Paula explica, “Diário de Sintra” não é um filme sobre o Glauber Rocha. É um jogo de memória que, poético, pode emocionar qualquer pessoa que já viveu uma perda. Foi o que ocorreu no festival de Tribeca, em Nova York, no ano passado, quando Paula viu muitas pessoas comovidas no fim de uma sessão do filme. “Poucas pessoas ali já tinham visto um filme do Glauber”, diz ela.
Marie Claire Online conversou com a artista sobre a época que inspirou o filme, que estreia nesta sexta-feira em São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador.
Marie Claire - O Diário de Sintra é um filme sobre um passado pessoal seu. Por que fazê-lo?
Paula Gaitán - Eu tinha esse material, feito em 1981, que tinha ficado no passado. Eu nunca havia mexido. Aí passados 25 anos, participei de um edital do Itaú e ganhei. Eu sempre fui correta sobre o tema: não é um filme sobre o Glauber, é uma construção minha a partir dele. E quando você faz um filme, é porque existe uma necessidade vital de fazê-lo, uma pulsão que te leva. Foi o que aconteceu.
MC - Nele, o fluxo de narração dele não é linear. Por que?
PG - Porque a memória não é linear mesmo. Ela é cheia de faltas e vazios, partes escuras que você não consegue alcançar. Para falar de memória, você parte do esquecimento e constrói essa coisa fragmentada, feita de associações livres. A memória é muito sensorial, olfativa. E o filme é sensorial também.
MC - Assistí-lo é como remexer em uma caixa de lembranças para você?
PG - No começo, quando fiz o filme, a questão da produção se impunha. Viajamos a Portugal e acontecia de acordar às 5h para trabalhar, tinha uma rotina. Ele ficou pronto em 2007 (eu o montei muito rapidamente). O que acontece agora é que, cada vez que vejo o filme me emociono mais. É como se visse filme de outra pessoa. Porque todo mundo tem perdas - às vezes nem é por morte, pode ser um namorado que foi embora ou a relação que acabou, e você tem que viver aquele luto. O filme fala delas, da ausência, não só da viuvez.
MC - Por que vocês estavam em exílio em Sintra?
PG - O Glauber tinha feito “A Idade da Terra” e nós fomos com ele para Veneza, eu ele e as crianças. O filme não teve uma boa acolhida no Brasil, pois tinha uma proposta muito à frente de seu tempo. E ele sofreu muito com isso, teve muitas decepções. Se sentiu exilado de novo. Então decidiu ir para Sintra, queria ficar isolado.
MC - Como eram esses meses em família?
PG - Foi um período muito interessante, bonito. Sintra é bucólica, é pra onde iam os poetas românticos, como o Lord Byron. Foi fértil. Ele escreveu vários roteiros. O Glauber tinha uma disciplina inacreditável, era muito rigoroso e certinho. As pessoas têm uma visão de que ele tinha uma personalidade exuberante, mas ele começava a trabalhar na máquina de escrever às 8h, ia até as 12h, almoçava e depois retomava.
O problema é que havia sido uma longa batalha mesmo. E aquilo afetou a saúde dele. Eu costumo dizer que, às vezes, o quando o guerreiro repousa, o seu corpo não resiste. Ele não resistiu.
MC - Você esteve com Glauber nos últimos anos da vida dele. Como é sobreviver à morte de um grande amor como esse?
PG - Caracas, é difícil. Foi para isso que fiz o filme. Eu tenho muitos amores, sou uma mulher apaixonada. Mas os grandes amores permanecem.
MC - Você guarda muitas coisas do Glauber?
PG - Guardo porque ele foi um homem importante. Ele não foi um grande amor só para mim, mas também para quem ama o cinema dele, para quem segue suas ideias. Não é um privilegio meu, que fui companheira dele... [Paula se desculpa por não conter o choro]. Eu fico emocionada. Esse amor não me pertence, é um amor coletivo, porque ele é um homem público.
MC - Assim como ele, você é uma artista [Paula é cineasta e poeta]. O que Glauber lhe ensinou sobre arte?
PG - O Glauber deixou uma lição para muitos artistas, que é a possibilidade da invenção, da liberdade, e de lutar por isso. De ter coragem, ter uma ética e uma estética. Na história da humanidade você vê gente que aderiu a movimentos de extrema direita e teve obras artísticas revolucionárias. Mas é essa coerência [que esses artistas não tiveram] que o Glauber deixou.
MC - O mundo conhece o Glauber intelectual, cineasta. Como era o Glauber pai e marido?
PG - Ele era muito dedicado. Era generoso, carinhoso, como os pais têm de ser. A generosidade é do carater do Glauber, ele sempre se doou muito aos amigos também. É muito bonito a parte [do filme] em que ele canta com as crianças. A Ava fica repetindo, e agora ela se tornou uma cantora incrível.
MC - Você se apaixonou novamente depois de Glauber?
PG - Sim, me apaixonei. Eu tenho uma filha de 20 anos que é fruto de outra paixão. Eu sou uma mulher de grandes paixões, espontânea e intuitiva. É a minha maneira de me dedicar às coisas de coração aberto.
Chronotopic Anamorphosis from Marginalia Project on Vimeo.
Vídeo criado pela equipe Marginalia baseado nos estudos de Zbigniew Rybczynski no livro "The Fourth Dimension" , e analisados por Arlindo Machado no livro "Pré-Cinemas e Pós-Cinemas". Hoje esta equipe está viajando o mundo apresentando seu trabalho audiovisual em museus de arte contemporânea.A falta do hábito de leitura há algum tempo é algo a qual não mais se pode dar a desculpa de que “livros custam caro”, sendo uma atividade exclusiva de uma elite econômica ou intelectual.
Há hoje uma gama de meios para se chegar às obras literárias, à baixo custo ou custo zero! Além da proliferação de lojas de livros usados pelas cidades de todo o Brasil, há na internet algumas formas de se encontrar aquela obra tão necessária.
Scribd: site internacional de hospedagem e compartilhamento gratuito de arquivos em .doc e .pdf. Na maioria das vezes são livros escaneados integralmente e carregados para o site de forma ilegal.
Foi através deste site que comecei a ler “Coração das Trevas” (que inspirou “Apocalipse Now”), livro esse que me deu uma vontade imensa de fugir para a Índia no começo deste ano! Logo depois encontrei um exemplar novinho num sebo e comprei. E depois de ter gasto R$50,00 no livro "História do Cinema Mundial" de Fernando Mascarelo é que fui fazer uma busca nesse site e encontrei ele em versão integral. Os últimos 5 capítulos são muito bons.
Projeto Democratização da Cultura: Uma mega comunidade que contém praticamente toda a bibliografia nacional, e muitas obras famosas estrangeiras também, além de quadrinhos, revistas, RPG e audiolivros. Há muitas formas de busca para se encontrar o que quiser e também área para fóruns de discussão e troca de arquivos. Nem todos os arquivos são ilegais, mas a maioria é. Para ter acesso basta um simples cadastro.
Foi desta forma que li o conto “A 3ª margem do rio” de Guimarães Rosa, profundamente assustador!
Estante Virtual: depois de ter conhecido este site, que é um aglutinador de sebos de todo o Brasil, é cada vez mais raro eu comprar um livro novo. Mesmo tendo que pagar o frete vale muito a pena comprar neste endereço. Os mecanismos de busca são simples, pode-se procurar por título, autor, sebo, cidade ou editora.
Desta forma comprei “Larousse da Cozinha Italiana” por R$55,00 + Frete. O livro estava em excelente estado, praticamente novo. Se tivesse comprado um exemplar novo numa livraria habitual custaria no mínimo R$100,00.
Internet Archives: este recurso eu nunca aproveite plenamente, trata-se de um assustador banco de dados da cultura do mundo. É possível achar muita coisa em todas as formas: textos, livros, filmes (curtas, longas inteiros, animação) áudio, programas, além de um recurso chamado WayBack Machine que possui registrado mais de 150 bilhões de página da internet desde 1996. Aparentemente todos os arquivos são legalizados.
Viajando neste mega portal encontrei o filme "Freud - além da alma" (com roteiro escrito por Sartre, porém não creditado) legendado em português para baixar, percebi que o arquivo é ripado da TV, o que significa que as obras não são todas legalizadas, mas há um aviso de que o arquivo está em domínio público. Sei lá!
Mercado Livre - Livros: tem a mesma estrutura de compra e venda do Mercado Livre.com (bastante óbvio). Nunca comprei nenhum livro através deste endereço, mas achei um que me parece ótimo "O Cinema tem Alma?". E agora que dei uma olhada no site estou pensando em vender minhas quinquilharias aqui, os sebos da cidade estão oferecendo muito pouco pelos meus bens renegados!
Recentemente o Google anunciou que irá lançar um serviço chamado Google Books, com 500 mil títulos em formato e-book para comercialização. O que existe hoje é uma forma beta deste recurso, onde você pode ter acesso livre a algumas páginas das obras e se quiser ler o livro integralmente o Google te mostra onde encontrá-lo. Mas o acervo ainda está quase todo em inglês, mas já existe muita coisa em português.
Confesso que ainda não li nenhum livro inteiro na frente do PC, só contos, pois acho isso bastante difícil, cansativo, talvez falta de hábito. Uma solução fácil é imprimir os e-books em folhas de papel reciclado ou utilizar o lado branco de apostilas que você não utiliza mais.
Também não acredito que por causa desses recursos digitais as livrarias habituais (de shopping, das esquinas, ou virtuais) chegaram ao fim. Pois dependendo do caso só é possível encontrar o livro querido neste tipo de estabelecimento. Por exemplo, recentemente quis comprar o “Cinema Pós Moderno Brasileiro – O Neon Realismo” de Renato Luiz Pucci Jr e só consegui encontrá-lo em exemplar novo numa livraria dessas.
O tempo é sentido de forma relativa. Entenda, assistir “Terra em Transe”, por exemplo, é infinitivamente mais demorado do que “Esqueceram de mim".
E digo mais, não é obra de nenhum filósofo saber que é uma grande idiotice supersticiosa pensar que quando o ano termina à meia noite do dia 31 de dezembro termina aí um ciclo e que tudo de novo e de bom pode acontecer a partir do dia 1º de janeiro! Mas talvez esses ciclos de tempo realmente existam, porém fora de uma limitação padrão conhecida e comum a todos.
Desde o dia 13 de outubro não vivo mais em 2009, e sim em 2010. Tomei clara consciência disso depois de ter passado por uma importante seqüência de causas e conseqüências:
1°) Não ter conseguido o visto de estudante para terminar minha faculdade na França me forçou a continuar vivendo na terra dos índios de pau-brasil;
2º) Forçado a continuar neste país decido então fazer um outro curso superior, mais próximo dos meus verdadeiros interesses pessoais, assim me inscrevo no vestibular;
3º) Para fazer a prova de vestibular me preparo por quase 2 meses. A prova aconteceu neste domingo passado;
4º) Ao ver o gabarito da prova sou tomado por uma ansiedade/angústia sem precedentes, pois descubro que o meu desempenho foi de baixíssimo rendimento nas questões de Conhecimento Artístico Cultural, o que também me deixou bastante constrangido. Estes sentimentos de angústia e ansiedade poderiam se estender, e consumir o meu peito e atormentar o meu cérebro até o dia 30 de setembro (dia que sai o resultado do vestibular) não fossem certas providências que tomei;
5º) Decido ir e vir a pé de casa para o trabalho todos os dias, para deixar os pensamentos e sentimentos nebulosos e doloridos nas ruas da cidade, bem longe da minha cama e do meu café da manhã;
6º) Outra providência para diminuir a ansiedade: decido fazer uma faxina geral no meu quarto, aquela de arrastar todos os móveis do lugar e tirar todo o pó escondido atrás de tudo;
7º) Na hora de colocar todas as coisas nos seus lugares percebo que tenho muito mais coisas do que preciso;
8º) Decido separar e vender todas as coisas inúteis (livros, revistas, DVDs, roupas e CDs). Veja, apenas 3 dvds e 4 livros me renderam 50 Reais num sebo do centro. E isso é só o começo;
9º) Logo após o término da faxina algo de mais incrível e completamente inesperada aconteceu: supero o trauma pela morte do Michael Jackson! Assim, como do nada, me sinto livre deste sentimento ruim de frustração;
10º) 2009 ficaria marcado para sempre na minha vida como o ano em que EU veria Michael Jackson ao vivo num show em Londres que aconteceria no dia 27 de setembro passado. Sou um grande admirador do trabalho deste artista ímpar da nossa cultura. Após sua morte estava difícil para eu aceitar que não seria mais possível realizar esse sonho, pois quando pensava no Michael ainda me vinha à cabeça a promessa de vê-lo neste show. Eu já tinha aceitado a sua morte, mas ainda não tinha deixado-o ir. É como se dentro de mim ele ainda estivesse vivo! E eis que então, de repente ele se vai para nunca mais voltar. E se não tem mais Michael então não tem mais 2009. Simples assim.
Quase tudo o que queria ter feito em 2009 fiz. Quase tudo deu errado, é certo, mas não importa mais, pois agora já estou em 2010.