Copiei esta postagem do blog "Medo de quê?"
Trechos de A verdade por trás das câmeras, autobiografia de Nicole Puzzi:
"Acredito que muitas famílias, esposas, filhos e filhas, quem sabe até algumas amantes de produtores e exibidores, eu tenha sustentado com minha nudez nos filmes. Isso eles devem a mim, a Matilde Mastrangi, a Helena Ramos, Zilda Mayo, Zaíra Bueno, Aldine Müller e tantas outras belas atrizes com ideais bem mais elevados do que aqueles filmes. (...) Todas elas queriam ser atrizes de verdade. Mesmo no cinema nacional. O mal estava no que o público desejava e os produtores apoiavam, com a nossa conivência, dávamos a eles. Aqueles pobres filmes, ingênuos e bobos, mas de sucesso garantido. Desrespeito com o público, mas principalmente conosco."
"Porque fazíamos os filmes, então? Porque alguém teria que fazê-los. E nós estávamos ali, naquele lugar, naquele momento. E nós fizemos. Era somente a nós que o público desejava, mas com um desejo pegajoso, punheteiro. Eu nunca ia às estréias dos filmes. Me sentia mal, diminuída. Regredi no relacionamento social, além da regressão intelectual. Parecia que o meu cérebro tinha diminuído. Ao encontrar algum ator ou atriz respeitável eu passava mal, tinha complexo de inferioridade. Me sentia contaminada por aqueles filmes. Por quê? Sei lá, dava a impressão que filmar aquelas bobagens eram um karma a ser cumprido. A gente não precisava raciocinar, nem ter talento: o que contava era o corpo."
"Ivan, o Terrível
Nunca fui tão assediada por um diretor como pelo Ivan Cardoso nas filmagens de As Sete Vampiras, em 84. Eu ia para Petrópolis (filmávamos no Hotel Quitandinha) às segundas, terças e quartas.
Ele batia na minha porta, me cantava, eu não tinha mais sossego. O maquinista ficou afim, ela fingiu que deu pra ele quando o Ivan quis entrar no quarto, mas diz que não deu.
No Festival do Rio, o Prêmio Tucano, vi As Sete Vampiras e tomei um susto: não é o script que me deram, as minhas cenas foram cortadas. Cenas importantes, cenas que eu levava duas, três horas para me maquiar, para me transformar em monstro. O Toninho Meliande, que fazia parte do júri, ainda comentou: - Nicole, você é a primeira protagonista que não é protagonista. Você não aparece mais que 20 minutos, menos que a Andréa Beltrão, que faz o segundo papel.
Nicolle perguntou, e Ivan: 'Lembra com quem você estava saindo durante as filmagens? Você precisa saber pra quem você dá!' "
"Sou uma mulher do cinema nacional. Sou, sim. Não tenho vergonha de admitir isso. Durante todo esse tempo fui feliz, tive muitas alegrias. Fiz filmes que, se não acrescentaram nada à historia do cinema – alguns acrescentaram, outros não – pelo menos renderam excelentes bilheterias e alguns produtores, alguns distribuidores ficaram ricos com esses filmes."
PUZZI, Nicole. A verdade por trás das câmeras. Porto Alegre: L&PM, 1994.
Trailer de AS SETE VAMPIRAS
Entrevista com Nicole Puzzi
Dossiê Ivan Cardoso, na Zingu
Horror, sexo e humor no cinema brasileiro, artigo de Bernadette Lyra e Gelson Santana
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