quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Os Monstros de Babaloo


Quando você pensa em família qual a primeira idéia que lhe vem à cabeça? Amor? União? Laços eternos? Natal?

“Os Monstros de Babaloo” de 1970, escrito, produzido e dirigido por Elyseu Visconti pode abrir os seus olhos para esta instituição sagrada. Esse é sem dúvida alguma o melhor filme sobre família que já vi.

Os monstros do título são as pessoas que habitam Babaloo, ilha mítica onde há uma mansão erguida com o dinheiro de Badu, o pai. Num primeiro momento o filme parece ser uma mera fantasia absurda saída da cabeça de um cineasta no final dos anos 60, mas basta você olhar mais atentamente e perceber que nada do que se vê é tão fantasioso quanto parece.

Evandro não escolheu atores atraentes para viver os papéis principais, ele preferiu uma atriz gorda, feia, passionalmente exagera e egoísta para viver a mãe. O pai é feio, banguela e egoísta. O irmão parece um macaco mendigo, visivelmente louco com algum retardo e egoísta. E tem ainda a irmã mais velha (Helena Ignez) essa é diferente, ela é linda, um pitéuzinho, loira, engraçada, inteligente e egoísta também. Em Babaloo todos são representações visuais autênticas de nós mesmos.

Mas porque todo mundo nessa casa é tão medonho menos a irmã? Oras, o filme é narrado por ela, tudo se passa através do ponto de vista desta garota, ela sempre está por cima da carne seca, além de ser linda ela é a única que se dá bem no final. Se o filme fosse narrado por outro membro da família a história teria outro desenlace.

Evandro Visconti filmou na total ausência de moralismo a natureza egoísta que está intrínseca em nós. O cara estava livre! É lindo de ver. Inspirador. Para ele o único fator que une a família é o dinheiro e o espaço para morar, quando esses cogitam desaparecer também desaparece o interesse de permanecer juntos.

Um exemplo. Badu é muito rico, por isso tem todos a sua volta. Tanto ele quanto sua mulher têm casos extraconjugais, mas isso em momento algum parece ser um problema enquanto ainda há dinheiro. A partir do momento em que a grana acaba a traição é motivo de brigas e até morte.

Cada ser humano vive o seu universo independente da família. Evandro coloca seus personagens neste ambiente apenas para nos mostrar que a família não passa de uma ilusão e que há de se quebrar o signo marcado do PAI, da MÃE e do IRMÃO para viver melhor e sem culpa. Tanto o pai, como a mãe e o irmão são como qualquer outra pessoa existente no mundo.

Claro que há pelo menos um momento de coexistência pacífica e harmônica entre essas pessoas, onde todos se conciliam; estão todos dentro do carro passeando e cantando o Hino da Copa de 70 , “90 milhões em ação, pra frente Brasil, salve a seleção...” Puro engodo!
não tem em dvd pra comprar!

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Na Tv

Pra quem não vai num dos shows da Madonna nesse final de semana pode ficar em casa vendo TV. Aqui está o melhor da programação. Divirta-se!



Arte de Chaplin

A vida do grande mestre do cinema Charles Chaplin, na visão do historiador americano Richard Schickel. Ele é o diretor do documentário Carlitos: a arte de Charles Chaplin, que vai ao ar no dia 20 de dezembro, sábado.
O filme explora a vida de Chaplin, desde sua infância em Londres, até sua morte em 1977. O documentário tem cenas da sua carreira multifacetada no cinema e de sua tão publicada vida privada.
Imagens de arquivos são mescladas com entrevistas atuais com personalidades de Hollywood como Woody Allen, Martin Scorsese, Johnny Depp e a narração do artista Sydney Pollack.

No Canal Futura
Sábado às 18h30


A Igualdade é Branca









Karol, um cabeleireiro da Polônia se divorcia de sua bela esposa francesa Dominique e é jogado nas ruas de Paris, sem dinheiro e sem passaporte. Tudo parece estar perdido até que ele conhece um compatriota, que engenhosamente leva Karol de volta à Varsóvia escondido em uma mala. Uma vez lá, Karol decide vingar-se de sua ex-esposa. Começa a negociar no mercado negro e obtém sucesso. A sua meta é conseguir dinheiro suficiente para colocar o seu plano em ação, mas ele não contava com o amor, que aparece como obstáculo à perfeita execução de seu projeto.

Canal Futura
Sexta 23h30
Sábado 22h30
Domingo 22h


Tônica Dominante


O telespectador acompanha o drama “Tônica Dominante” (Brasil/2000/80’), que marca o início da carreira de diretora de Lina Chamie. O filme mostra três dias na vida de um clarinetista. No primeiro dia, ele passa por uma situação de solidão e fragilidade. No segundo, o que era para ser algo agradável acaba se tornando um enorme pesadelo. Já no terceiro ele finalmente encontra a plenitude através da música e consegue ajudar uma pianista que se prepara para um concerto. O elenco é formado por Fernando Alves Pinto, Vera Zimmermann, Vera Holtz, Carlos Gregório, Sérgio Mamberti, Walderez de Barros, dentre outros.


TV Cultura

Sábado às 23h40

sábado, 13 de dezembro de 2008

Na TV


A Liberdade é Azul


Julie perde o seu marido compositor e o seu filho em um acidente de carro e, apesar de devastada, tenta recomeçar, longe de sua pátria e com um pretendente. Mas a música ainda faz parte da sua vida, ao passo que descobre fatos desagradáveis sobre a vida de seu marido. Aos poucos Julie aprende a viver de novo, com a música e o dom da criação provando ter uma força curadora.

Canal Futura

Sábado (13/12) as 22h30
Domingo (14/12) as 22h
O Canal Futura vai exibir a Trilogia das Cores essa semana, depois posto as datas e horários dos outros filmes.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Os Carvoeiros




Documentário de 1999 dirigido por Nigel Noble (inglês ganhador do Oscar de melhor documentário por Close Harmony em 1981) começa levantado algum debate antes mesmo de tomarmos contato com o filme em si. “Os Carvoeiros” é um filme brasileiro?

Um filme brasileiro seria aquele falado em português, produzido e comercializado por profissionais brasileiros no Brasil (relativamente seria isso).
Mas não é isso que acontece nesse caso. O filme é falado em português sim, trata de um tema brasileiríssimo sim: o desmatamento de florestas e trabalho sub-escravo (e tudo o que vem antes e depois disso; educação deficiente ou nula, pobreza extrema, etc etc...), mas é dirigido por um inglês e sua distribuição e exibição no Brasil foi praticamente nula, não houve lançamento em salas comerciais se restringindo apenas a alguns festivais, também não há disponível em DVD para compra ou locação (mas você consegue comprá-lo facilmente pelo amazon.com ou qualquer outro site fora do Brasil). Fora isso passou no Canal Brasil (que é TV fechada, um canal que faz parte de uma grade especial de programação, isso quer dizer que se você tem o pacote básico da TV por assinatura não tem acesso a esse canal). Resumindo, pouquíssimos brasileiros viram esse filme. Eu baixei a minha cópia da net, sem culpa, baixe você também!

Mas sinceramente acho essa discussão uma banalidade, o importante é que esse filme existe. De qual país ele leva a bandeira é completamente irrelevante (para determinados fins, claro!). Quando se cogitou uma possível nomeação ao Oscar em 2000 era o nome Brasil que estava em jogo, mas se ganhássemos (!) talvez soasse um pouco falso. Ou não, pois há muito do trabalho de José Padilha e Marcos Prado, sinceramente, nem sei o que esse Nigel fez, o trabalho desses brasileiros é muito mais perceptível num 1° momento.

Primeiramente porque foi através do trabalho fotográfico de Marcos Prado que esse projeto se fez existir. Marcos Prado trabalha o drama desses carvoeiros desde 1991, fazendo um documento fotográfico vencedor de importantes prêmios internacionais. Conseguiu terminá-lo a tempo de exibi-lo no ECO 92 no Rio, onde ganhou repercussão internacional. Quem não gosta de fotos em p/b de gente feia, suja e pobre belamente enquadrada?

E tem também o trabalho de José Padilha que depois faria Ônibus 174 e Tropa de Elite juntamente com Marcos. Está lá todo o caso de injustiça social e também um outro fator muito importante visto na última obra de Padilha; o consumo (in)consciente, neste caso o consumo das florestas na região central do Brasil, em Tropa de Elite é o consumo de drogas. Boa parte daqueles trabalhadores sabe que estão fazendo a coisa errada desmatando aquela quantidade enorme de árvores aumentando o desequilíbrio ambiental, mas infelizmente foi só o que sobrou para sustentarem suas famílias, se hoje extinguirem essas atividades essas pessoas morreram de fome.

E Nigel, onde fica? Bem... ele não é brasileiro mas com certeza é um homem de cinema, uma pessoa muito sensível que demonstra sua idéias muito mais através de imagens do que palavras. Fica claro qual é o papel de Nigel logo na 1ª seqüencia do filme, imagens de mãos negras segurando e amarrando pesadíssimas correntes de aço em tratores, correntes que logo irão destruir um pedaço enorme da mata, as cenas de devastação são deprimentes, Nigel opta por takes mais fechados para mostrar a queda das árvores, o efeito disso é perturbador e angustiante. Poético, como não?!

“The Charcoal People of Brazil” (seu título internacional) mostra a vida miserável desses carvoeiros, eles trabalham a vida toda ganhando muito pouco, quase nem tem o necessário para comer, crianças ajudam os seus pais e deixam de ir para a escola, se há escola. Onde há só tem algum aluno sentado na carteira quando os pais dessas crianças ganham alguma ajuda do governo que dá 50 reais (em 1999) por mês para cada criança permanecer na sala de aula. Mas é óbvio que é uma educação deficiente, um bom exemplo é quando uma das crianças é perguntada sobre o que queria ser quando crescer, ela respondeu sem a menor dúvida “Quero ser carvoeiro como meu pai!” o entrevistador perguntou “Por quê?” a criança respondeu “Para ganhar dinheiro!”.

Claro que é por dinheiro! Eles não queimam a floresta por que são pessoas do mal, ou por que acham tudo isso muito divertido. Existe um número enorme de siderúrgicas no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul que precisam desse carvão vegetal para produzir um tipo específico de ferro chamado “ferro-gusa” que é exportado para toda a Europa, EUA e Japão. O Brasil é o único país do mundo que produz ferro-gusa a partir de carvão vegetal, o resto do mundo produz esse ferro a partir de carvão mineral, resultando num produto de menor qualidade.

E agora, com a escassez de matéria-prima naquela região essas siderúrgicas estão se mudando para a Amazônia. Que ótimo!
Se bem é verdade que hoje 67% da madeira utilizada para a produção de carvão provem de áreas reflorestadas, mas esse também é um problema tão grave quanto o da derrubada da mata original; a monocultura da árvore de eucalipto usado nessas plantações impede o crescimento de qualquer outra forma de vida nessa região, criando um impacto ambiental tão profundo quanto o desflorestamento.

E é esse o apelo que o filme faz, essa é a sua razão de existir, mostrar ao resto do mundo que algo precisa ser feito nesses lugares, tanto para com a floresta quanto com aquelas pessoas. E talvez essa observação responda aquela pergunta lá no começo. Sobre a má distribuição do filme aqui no Brasil.

“Os Carvoeiros” é um filme pra gringo ver (imagens belíssimas de miséria, trilha sonora idem). Esses temas de pobreza absoluta não nos comovem mais, ou talvez não comovam tanto, ou não o necessário. Estamos vacinados quanto a isso pois vemos o tempo todo na tevê ou nos jornais. Um filme como esse pouco acrescentaria a nós. Analisando dessa forma “Os Carvoeiros” se assemelha à “Iracema – uma transa amazônica”, filme do anos 70, financiado por uma televisão Alemã mostrava a floresta amazônica sendo devastada pelas queimadas, “Iracema” causou muita polêmica quando foi lançado pois foi a 1ª vez que imagens da Amazônia pegando fogo correram o mundo abrindo os olhos dos gringos para problemas ecológicos, sociais e econômicos que estavam acontecendo no Brasil. Só que “Iracema” é um filme bem diferente, ele tem um formato inusitado e livre; meio documentário, meio ficção meio teatro farsa com o Paulo Cezar Peréio no papel principal, o filme sugeria debates nas mais diferentes âmbitos de discussão.

Mas analisando os dois filmes tem algumas perguntas que não querem calar:

Qual a força do cinema perante a economia e o consumo mundial sobre assuntos ecológicos?
Será que ele pode mudar alguma coisa? Será que ele pode mudar alguém ou um determinado grupo de pessoas a ponto de fazer parar com as queimadas na Amazônia?
Será que se não houvesse “Iracema” nos anos 70 a Floresta Amazônica estaria pior?