sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

ELES NÃO USAM BLACK-TIE


Hoje há dois tipos de cinema produzidos no Brasil: filmes autorais intelectuais para festivais e filmes popularescos para o povão desfavorecido intelectualmente, esse em menor quantidade. Um público (em raríssimas exceções) não se encontra com o outro. E há reclamações diversas dos dois lados.

“Eles Não Usam Black-tie” é um filme-resposta adiantada para esse problema.

É inteligente e até revolucionário dentro de um formato absorvido por todos.

Um “Cidade de Deus” não publicitário.

No começo do filme tem um casalzinho hetero, lindos, católicos, pobres e humildes, tão banais que chega a dar ânsia de vômito, esse é o cinema popular, está se estabelecendo uma empatia com esse público, o outro público está ficando puto dos cornos mas só até o seguinte momento; a mulher conta ao namorado que está grávida, ela é pró-aborto, o namorado acha a idéia dela um absurdo e já marca o casamento. Neste momento fica registrado quem é quem; uma mulher progressista consciente de seu corpo e suas escolhas e o homem nascido e criado durante a ditadura, um reacionariozinho de merda, “careta e covarde” que existe aos montes até hoje, e continuam se reproduzindo, “tal pai, tal filho” (!)

Mas esse “tal pai, tal filho” não funciona aqui, este babaca é filho de um pai que luta pelos direitos dos trabalhadores (Gianfrancesco Guarnieri, ator e autor da peça onde foi inspirada o filme).  “Eles Não Usam Black-tie” é sobre o afrontamento dessas duas gerações e não procura esconder isso, alguns diálogos são bem explícitos dizendo abertamente o que geralmente ficaria subentendido, mas de novo, como o filme busca um diálogo mais próximo com um público sem tanto entendimento cinematográfico, essa escolha se torna entendível e suportável. Aqui está se usando o cinema não para falar de cinema, e sim como uma ferramenta para a veiculação de ideais sociais (Eisenstein).

Aqui o pensamento comum e machista é punido, ao contrário do que vemos hoje com a supervalorização do banal pela tv.

A revolução, o ato consciente e a busca pelos direitos não se trata de um ato suicida, distante da nossa realidade e utópico, e sim um processo de luta natural para a evolução.


baixe aqui "Eles Não Usam Black-tie"

 

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