Em reapresentação em Juiz de Fora, o filme “Pequenas Histórias” é uma grande surpresa. Filmes infantis são, geralmente, impregnados de lições moralizantes sobre o que é certo e errado, o bom e o mal, etc. Ideais cultivados por uma cultura ocidental cristã e machista. E quando se fala de cinema infantil nacional aí é que a coisa piora, pois esses ideais parecem ser elevados a 10ª potência, incluindo nisso muita idiotice. Ver filmes da Xuxa, por exemplo. Além de que esses filmes são praticamente impossíveis de serem assistidos por qualquer pessoa inteligente com mais de 8 anos de idade.
Agora esse “Pequenas História” é outra história. Ele também tem suas lições de moral, e que lições! Algumas são até interessantes para nós, adultos, e é justamente essa a grande sacada do longa, dirigido por Helvécio Ratton (Menino Maluquinho, Batismo de Sangue), o filme apresenta 4 historinhas contadas por Marieta Severo, que interpreta uma costureira acima de qualquer suspeita.
Por exemplo, num dos contos temos a grande entidade dos sonhos de desejo de consumos das crianças, o próprio Sr. Papai Noel se comportando como um meliante, um criminoso que acaba se tornando um marginal dotado de uma pobreza de espírito bastante real, alguém de quem devemos duvidar da sua índole, por mais plena de bondade que ela pareça ser. Algumas cenas parecem ter saído do melhor filme marginal dos anos 60 e 70.
Noutro conto a igreja católica é mostrada como um lugar assombroso e frio, a cultura cristã como algo a qual devemos ter medo a ponto de nos traumatizarmos, no final deste conto o pequeno garoto protagonista foge correndo da igreja para nunca mais voltar. Não vejo melhor lição de vida. Essa história, aliás, se passa num vilarejo do interior de Minas Gerais, um lugar que possui uma áurea de indubitável inocência. Tudo para fazer despistar o seu conteúdo quase herege!
E no mês em que comemoramos o dia da mulher, o filme apresenta não uma homenagem machista como é tão habitual nas formas de expressão mais populares quando procura mostrar a mulher como o centro de sua narrativa, mas sim uma forma de libertação da mulher dos velhos costumes, sendo assim está colocando ideais jamais vistos no cinema infantil transmitido para meninas. No conto temos a sereia Iara que decide virar mulher para morar com um pescador, mas antes de ir para terra firme ela pede ao pescador que faça uma promessa, de jamais tratá-la mal. E ele jura cumprir. No começo do relacionamento só alegrias, mas aos poucos o pescador vai relaxando nos seus hábitos, começa a beber e farrear, até um dia que chega de manhã em casa e pior, bêbado, dando ordens à Iara e tratando ela muito mal. Ponto, ela não tem dúvidas, com seu poder das águas castiga o pescador e vai embora, sem dar nova chance para o azar, sem esperar por mudança de comportamento de seu companheiro, “tapando o sol com a peneira”. O trunfo do filme está no conteúdo dessas “pequenas histórias”.
Ainda há mais uma história sobre um sertanejo muito burro, mas dessa história eu não gostei ou talvez não tenha entendido. Então, você faça o favor de assistir filme e me dizer o que achou.
“Pequenas Histórias” está em cartaz no Espaço Unibanco Palace às 14hs, e faça o favor de levar o seu filho junto!
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