Escrito e Dirigido por Chico Teixeira, 2007.
“A Casa de Alice” é o tipo de filme que revela. Mostra o cotidiano na sua forma simples. A parte complexa fica com o roteiro que usa de recursos clássicos (curva dramática, clímax, ponto de vista, etc.) e acredito que não precisava disso, pois como o filme se presta a revelar e a não iludir, e como não é um filme feito com a pretensão de arrecadar centenas de milhões nas bilheterias esses parâmetros do cinema clássico se tornam desnecessários, mas não atrapalharam.
O filme revela o dia-a-dia de uma família de classe média baixa. Revela seus problemas de convivência e suas mentiras, não a grande mentira (religião, amor, existência), apenas a mentira hipócrita, aquela típica e pequena do dia-a-dia, mas que faz toda a diferença, ou pelo menos alguma diferença. Para pessoas banais, problemas banais, mentiras banais.
Por exemplo, num diálogo alguém diz: “Transei com o meu marido a noite inteira, foi ótimo!”, nós sabemos que é mentira, ficaram brigando, não se agüentam mais, nem se tocam! Mas a pessoa que está escutando acredita no que a outra diz, ou finge que acredita.
Outro exemplo de um outro personagem que diz:
“Aquela mina é muito gostosa!” também é uma mentira, este personagem é gay, está só se fazendo de macho na frente dos familiares, pois ele tem uma imagem de militar a zelar, além de ser o primogênito. E por ai vai...
Todo mundo mente ou faz algo escondido, essa é uma verdade na vida e assim também no filme, mas como toda a verdade essa também é relativa.
Os atos destes personagens nunca são julgados (ou quase nunca) pelo diretor nem pelo roteirista que, aliás, são a mesma pessoa. Não há (ou quase não há) castigo generalizado ou redenção. A única castigada é a avó, proprietária do apartamento e que sempre parece saber de tudo ou quase tudo, e por isso é mandada para o asilo.
O caçula é o único que parece não mentir nem esconder algo, ele ganha a atenção e o carinho de todos na casa, aliás, é o único. Talvez ele mereça esse carinho por não fazer nada de errado. Bem, não sabemos se ele não faz nada de errado, apenas não vemos ele fazendo! Este não é o tipo de filme de verdades absolutas, ele é relativo. Só porque não aparece na tela não significa que não aconteça.
Mas de alguma forma o filme faz sim julgamento dos atos de seus personagens, pois fazendo a inevitável comparação desse caçula com os demais membros da família ele parece ser um santo e todos os outros têm e são podres, pois estão fazendo alguma coisa errada. Mas esse é o tipo de julgamento que resta para quem está vendo o filme, não é explicito na película.
Todos os julgamentos parecem ficar a cargo do espectador, mas há um julgamento explícito no filme e quem julga é o diretor (o julgamento não acontece no roteiro, ele acontece na forma). Descrevo; na cena vemos a avó indo em direção à janela do apartamento, ela está no alto vendo tudo (visão superior), ela vê seu neto mais velho chegando de carona num Gol preto, ele recebe uma grana do dono do carro, que o agradece e pega na sua coxa, é obvio que além de gay ele também é michê. A câmera está posicionada no alto, o clássico plongée (câmera que julga e diminui o personagem em vista de outro) e não parece haver razão para esse julgamento. Aliás, esse personagem é o mais complexo do filme. Vejam todos os rótulos que foram empregados a ele: primogênito, militar, gay, michê, pavio curto e dono da razão. Nós não gostamos dele, eu pelo menos não gostei, ele não é ruim apenas tem muito a esconder e suas máscaras são muito pesadas para uma pessoa só carregar. Talvez por isso o diretor o julgue como fazendo a coisa errada sendo michê, mas ser michê não parece ser a coisa “errada” a ser julgada e/ou denunciada. Muito mais errado é ele mentir! Quando ele mente para o seu irmão caçula narrando uma forma de sedução e dizendo que já fez isso muitas vezes com mulheres, nós sabemos que isso é mentira, ou pelo menos sentimos a presença da mentira em seu discurso, neste momento a câmera está na altura do seu olhar, um close up pegando um dos lados do seu rosto, ou seja, câmera que não julga. Como se não houvesse problema em mentir.
Depois de assistir a “Os Monstros de Babaloo” a minha visão sobre famílias no cinema mudou muito. Para mim “Os Monstro...” se tornou o filme definitivo sobre família. Obra de referência.
É porque eu gosto de cinema que explora de forma visual o interior, a alma. Alegorias. E não há essa exploração visual em “A Casa de Alice”. Senti falta disso. Mas é um absurdo comparar esses filmes.
Quando comecei a assistir “A Casa..” logo pensei “putz, que mal, parece novela!”. Bem, não é!
O filme revela o dia-a-dia de uma família de classe média baixa. Revela seus problemas de convivência e suas mentiras, não a grande mentira (religião, amor, existência), apenas a mentira hipócrita, aquela típica e pequena do dia-a-dia, mas que faz toda a diferença, ou pelo menos alguma diferença. Para pessoas banais, problemas banais, mentiras banais.
Por exemplo, num diálogo alguém diz: “Transei com o meu marido a noite inteira, foi ótimo!”, nós sabemos que é mentira, ficaram brigando, não se agüentam mais, nem se tocam! Mas a pessoa que está escutando acredita no que a outra diz, ou finge que acredita.
Outro exemplo de um outro personagem que diz:
“Aquela mina é muito gostosa!” também é uma mentira, este personagem é gay, está só se fazendo de macho na frente dos familiares, pois ele tem uma imagem de militar a zelar, além de ser o primogênito. E por ai vai...
Todo mundo mente ou faz algo escondido, essa é uma verdade na vida e assim também no filme, mas como toda a verdade essa também é relativa.
Os atos destes personagens nunca são julgados (ou quase nunca) pelo diretor nem pelo roteirista que, aliás, são a mesma pessoa. Não há (ou quase não há) castigo generalizado ou redenção. A única castigada é a avó, proprietária do apartamento e que sempre parece saber de tudo ou quase tudo, e por isso é mandada para o asilo.
O caçula é o único que parece não mentir nem esconder algo, ele ganha a atenção e o carinho de todos na casa, aliás, é o único. Talvez ele mereça esse carinho por não fazer nada de errado. Bem, não sabemos se ele não faz nada de errado, apenas não vemos ele fazendo! Este não é o tipo de filme de verdades absolutas, ele é relativo. Só porque não aparece na tela não significa que não aconteça.
Mas de alguma forma o filme faz sim julgamento dos atos de seus personagens, pois fazendo a inevitável comparação desse caçula com os demais membros da família ele parece ser um santo e todos os outros têm e são podres, pois estão fazendo alguma coisa errada. Mas esse é o tipo de julgamento que resta para quem está vendo o filme, não é explicito na película.
Todos os julgamentos parecem ficar a cargo do espectador, mas há um julgamento explícito no filme e quem julga é o diretor (o julgamento não acontece no roteiro, ele acontece na forma). Descrevo; na cena vemos a avó indo em direção à janela do apartamento, ela está no alto vendo tudo (visão superior), ela vê seu neto mais velho chegando de carona num Gol preto, ele recebe uma grana do dono do carro, que o agradece e pega na sua coxa, é obvio que além de gay ele também é michê. A câmera está posicionada no alto, o clássico plongée (câmera que julga e diminui o personagem em vista de outro) e não parece haver razão para esse julgamento. Aliás, esse personagem é o mais complexo do filme. Vejam todos os rótulos que foram empregados a ele: primogênito, militar, gay, michê, pavio curto e dono da razão. Nós não gostamos dele, eu pelo menos não gostei, ele não é ruim apenas tem muito a esconder e suas máscaras são muito pesadas para uma pessoa só carregar. Talvez por isso o diretor o julgue como fazendo a coisa errada sendo michê, mas ser michê não parece ser a coisa “errada” a ser julgada e/ou denunciada. Muito mais errado é ele mentir! Quando ele mente para o seu irmão caçula narrando uma forma de sedução e dizendo que já fez isso muitas vezes com mulheres, nós sabemos que isso é mentira, ou pelo menos sentimos a presença da mentira em seu discurso, neste momento a câmera está na altura do seu olhar, um close up pegando um dos lados do seu rosto, ou seja, câmera que não julga. Como se não houvesse problema em mentir.
Depois de assistir a “Os Monstros de Babaloo” a minha visão sobre famílias no cinema mudou muito. Para mim “Os Monstro...” se tornou o filme definitivo sobre família. Obra de referência.
É porque eu gosto de cinema que explora de forma visual o interior, a alma. Alegorias. E não há essa exploração visual em “A Casa de Alice”. Senti falta disso. Mas é um absurdo comparar esses filmes.
Quando comecei a assistir “A Casa..” logo pensei “putz, que mal, parece novela!”. Bem, não é!
Baixe "A Casa de Alice" clicando aqui, lembrando que este filme não tem pra comprar e nem alugar. Ou pelo menos eu não encontrei.
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