Desde quando cheguei à Juiz de Fora, há 5 meses, tinha em mente pôr em prática um projeto de cineclube (na verdade o projeto se tratava de um ciclo de cinema francês, plano ainda não descartado). Os fatores foram se juntando e eis que neste final de semana, durante as comemorações de 160 anos da cidade, iniciamos as atividades do CineClube Bordel Sem Paredes.
Uma semana antes das exibições houve muita correria para formatar o blog e criar o 1º pôster/flyer para divulgação. Do próprio bolso imprimimos 10 pôsteres p/b tamanho A3, colorindo o título “Cinema Marginal Brasileiro” com giz a óleo vermelho para dar destaque, e imprimimos 400 flyers, também em p/b, e distribuímos esse material em algumas universidades e ambientes que julgamos possuir apelo cultural como livrarias, locadoras, cinemas, bibliotecas, museus, cafés, teatros, sebos, etc... E esperamos pelo sábado.
Sábado de estréia
Como trabalho num restaurante à noite não pude comparecer neste dia, mas o Daiverson (tão apaixonado por cinema como eu) estava lá para a 1ª sessão junto do Daniel, técnico de som da Funalfa e responsável pelo Anfiteatro João Carriço e mais 12 espectadores para a exibição de “Os Monstros de Babaloo” de Elyseu Visconti. Confesso que queria muito ter ido nesta sessão e ter visto este filme na tela grande, pois tenho consciência de que nesta situação, tamanho faz, sim, diferença.
Logo após, às 21hs, “Sem essa Aranha” de Rogério Sganzerla, provavelmente “O” grande filme do cinema brasileiro, sessão essa que também tive o desprazer de perder! O Daiverson disse que na tela grande o filme se transformou numa obra assustadoramente avassaladora, e que após essa sessão dupla ele ficou completamente extasiado de alegria tamanha a grandeza das imagens e movimentos que essas obras exalam. Essa mesma sensação descrita por Daiverson só tive, que eu me lembre, uma vez quando assisti ao longa “Japan, Japan”, filme israelense de 2007 dirigido por Lior Shamriz, detentor de ideais estéticos muito próximos destes filmes exibidos no cineclube. Lembro de ter perdido o fôlego em algumas cenas de “Japan, Japan”.
Das 12 pessoas na 1ª sessão apenas uma pessoa ficou para a 2ª, completada com mais três espectadores que entraram apenas para ver “Sem essa Aranha”. O público se mostrou chocado com as imagens desses filmes e o que parecia uma brincadeira visto na tela pequena se transformou em algo perturbador na tela grande.
Cinema Moderno é para poucos
Aqui em Juiz de Fora existe o projeto “Cinema Para Todos”, que aos domingos exibe filmes gratuitamente no mesmo anfiteatro onde exibimos nossos filmes depravados neste final de semana. O público desse projeto é cativo e formado na sua maioria por senhores e senhoras, cidadãos comuns. Antes da 1ª sessão no domingo uma senhora me perguntou qual filme exibiríamos, eu respondi “O Bandido da Luz Vermelha” e fez cara feia ao saber que o filme seria: 1º) brasileiro, 2º) de 1968 e 3º) em preto e branco! “Que absurdo!” deve ter ela pensado. Foi a 1ª a deixar a sessão junto de sua amiga. Havia não mais de 10 pessoas na sala quando o filme começou, 13 se contando eu, o Daiverson e o Daniel.
O mais interessante foi que nenhuma das pessoas em que focamos nossa divulgação compareceu! Lembro que ao mesmo tempo das nossas sessões a cidade explodia em festas, shows, peças e apresentações culturais de todos o tipos, devido o “Corredor Cultural 2010”. Todos aqueles senhores que foram ver um filme domingo a noite são os mesmos senhores que sempre vão, aos domingos a noite, ver um filme gratuitamente no Anfiteatro João Carriço. Ao término de “O Bandido da Luz Vermelha” esses senhores foram embora, ficando na sala apenas nós, os 3 responsáveis. Após um bate papo enquanto esperávamos alguém chegar para a sessão das 21hs, e não chegou ninguém, decidimos passar não o filme que estava na programação (o pouco visto “Hitler IIIº Mundo”), mas sim “Bandalheira Infernal” de José Sette (que tinha entrado e saído da programação), filme que eu ainda não tinha visto e que tinha levado junto comigo já premeditando uma situação como esta. Posso dizer também que este era o único filme com licença para exibição pública, visto que o próprio diretor do longa tinha me presenteado com o dvd para tais finalidades.
Já começado o filme há uns 15 minutos entrou um casal (de amigos? namorados? irmãos? Gostaria de saber quem eram e como acabaram por entrar na sessão), ficaram uns 20 minutos e foram embora. As cenas que estavam passando eram fragmentadas e desprovidas de uma narrativa que privilegiasse o entendimento e a continuidade lógica. Cinema moderno é para poucos, mesmo! Durante a sessão de “Bandalheira Infernal” me senti dentro de um filme vendo um filme. Foi uma sensação metafísica, compartilhada também por Daiverson.
Difícil digerir facilmente o primeiro longa do Sr. Sette, não é o tipo de filme que você simplesmente vê e gosta, ou não gosta. Ele exige mais do espectador, exige discussão, diálogo interno, sei que preciso ver este filme mais vezes para poder assimilar com mais clareza as idéias, senti que ali há algo que me instiga e me deixa curioso. Muitos enquadramentos são esteticamente bem elaborados, mas não é a beleza plástica representada a finalidade do filme. Narrativamente caótico e esculhambado (no bom sentido), deflagra as incertezas e perseguições (real ou imaginária) vividas pelos brasileiros na década de 70 durante a ditadura militar.
2 comentários:
Seu blog é muito legal, parabéns!
Sucesso no cineclube!
muito obrigado,
apareça sempre!
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