quarta-feira, 9 de junho de 2010

Viajo porque preciso, volto porque te amo

      
        “Viajo porque preciso, volto porque te amo” é a obra de cinema mais intimista e ousada hoje em cartaz aqui em Juiz de Fora.

Aviso aos receosos à qualquer forma diferente de cinema que fuja ao clássico hollywoodiano, este filme não apresenta formalmente seu personagem principal, nós não o vemos, posso dizer que somos esse personagem. Todo o filme é composto por câmera subjetiva, vemos e ouvimos o que o personagem vê e ouve, nada além disso. O personagem é um geólogo em viagem de trabalho analisando terrenos áridos do nordeste que acabou de romper uma relação amorosa, durante todo seu trajeto não consegue parar de pensar na amada, sofrer, sonhar.

Na sessão que fui não havia mais de 10 pessoas na sala, durante a projeção 5 pessoas foram embora, li observação idêntica em outro blog, o que me chateou é que “Viajo...” não é um filme chato, daqueles difíceis para o público, com narrativa hermética e distinguível por poucos, pelo contrário, é um filme bastante simples sobre solidão, abandono, sentimentos tão comuns. Mostra o nordeste sem floreios ou distorções, apenas como o pior lugar para se estar quando se está mal consigo.

Difícil ás vezes é saber onde termina o diretor/roteirista e começa o personagem, por causa da forma usada há momentos em que ambos se fundem criando uma sensação especial, como na hora em que uma prostituta é entrevista. Alíás, quantas prostitutas! O nordeste parece estar cheia delas, todas as mulheres são prostitutas, ou tristes, ou prostitutas  tristes, e para equilibrar, o único homem mais ou menos apresentado no filme é apontado como talvez alguém que nunca tenha brochado. Seres humanos como bichos prestes a explodir em uma suruba de 1 homem para 9 mulheres, mas essa é a visão alucinada do personagem carente de sexo e/ou atenção.

Cheio de belos planos e sons de estrada ao entardecer, o novo longa de Karin Aïnouz e Marcelo Gomes é o tipo de filme que já passou pela minha cabeça ter feito, não esta história, claro, mas na utilização de certas imagens. Sempre me senti bem em ver e ouvir o anoitecer e o amanhecer nas estradas, seja dentro de um carro ou de ônibus, esses momentos são para mim instantes gelados, muito reais e ao mesmo tempo misteriosos, hora mágica e rara perdida e de certa forma estagnada e eterna.



Nenhum comentário: