sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

"Amor sem Escalas" para o museu




No cinema americano há muito tempo deveria existir um gênero específico chamado “Feitos para o Oscar” ou “Oscarizáveis”, tanto faz, são filmes que se encaixam facilmente no gênero drama, mas com toques de humor e pretensiosamente “bons”, lançados nas salas de cinema via de regra no final de cada ano.


Nesses filmes você encontra facilmente um ou mais momentos de picos dramáticos em que o ator soca o ar e grita, cheio de orgulho e entusiasmo, após uma grande reviravolta que ocorre apenas em seus pensamentos, mas que nem o ator, nem o roteirista, nem o trilheiro, muito menos o editor ou o cameraman deixa enganar sobre o óbvio que está acontecendo no cérebro do personagem. O óbvio reiterando o óbvio. E é neste momento que o público “pensa”, todos juntos “Este é um grande momento!”, “Esse é o cara!” “George Clooney é o cara!” e “Será que ele vai ganhar o Oscar?”


Bem, George Clooney é sempre O cara.


Uma boa parcela da culpa disso é o diretor Jason Reitman (do “maravilho”, “pequeno, meigo e independente” Juno) que em seu 2º trabalho em Hollywood (2ºs trabalhos são sempre difíceis para quem o faz, porquê depois que o cara, quase que por milagre consegue entrar naquele clube seleto dos “grandes nomes” do cinema americano ele não quer mais sair do clube), qualquer mancada será fatal e ousadias são luxos quase inimagináveis, por isso um diretor comum opta por fazer tudo “certo”.


Esse “certo” significa fazer tudo igual como já foi feito anteriormente na história do cinema, usar as formas e conceitos estéticos já testadas e aprovadas cabíveis pelo público. “Amor sem escalas” é um mar de todos os clichês do gênero “oscarizáveis”. Mas nesses filmes oscarizáveis sempre há alguma coisa nova, que imprima a marca do tempo em que foi feito, porquê neste gênero algo deve ser inédito pelo menos no conteúdo, algo que o fixe e que o date sem cair no plágio.


Apenas para constar, aqui vão algumas marcas da contemporanealidade presentes no filme:


*Cultura dos Laptops
*Cultura do SMS
*Cultura do contato pessoal via webcam
*Cultura dos planos de milhagens
*Cultura dos “workaholics”


Esse recurso serve para as gerações futuras de pesquisadores da história do cinema americano saberem como as pessoas se vestiam em tal período de tempo. E só, esses filmes não são produzidos com o intuito de serem obras eternas que dialogam com o ser humano e revele algo para quem o veja independente de quando veja. O cinema de Hollywood verdadeiramente não é sobre evolução, é sobre estagnação do tempo. Esse cinema apenas marca o tempo presente para o tempo presente. Talvez faça rir, talvez faça chorar, talvez faça você comer pipoca com Pepsi e é só isso o que importa.


Um filme com elementos tão atuais mas ao mesmo tempo tão marcado por situações favoráveis ao tradicionalismo do comportamento humano cristão que mais parece uma conversão espiritual, fazendo os “modernos” darem um passo atrás na evolução humana. O filme nos passa a “mensagem” (sim, o filme passa uma mensagem) de que nada pode superar a segurança da união matrimonial heterossexual, a única verdadeira e geradora de frutos, essa precisa ser sempre salva, mesmo estando muito longe da extinção.


Uma peça de museu.


Em "Amor sem Escalas" George Clooney é O cara.

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