quarta-feira, 18 de novembro de 2009

O Cinema Pós-Moderno Brasileiro




Muito se fala do cinema moderno brasileiro, o Cinema Novo e o Cinema Marginal, mas há outro estilo cinematográfico tão interessante quanto esses, porém sem o devido reconhecimento, é o Cinema Pós-Moderno.

Mesmo no cinema internacional este é um estilo pouco utilizado, em comparação com o cinema moderno. Filmes como "O Fundo do Coração" (Coppola), "Blade Runner"(Scott), "Brazil- o filme" (Gillian), "A Mulher do Tenente Francês" (Reisz), "Veludo Azul" (Lynch) dentre outros poucos títulos se encaixam dentro deste estilo. Talvez porque na década de oitenta a expressão "pós-moderno" servia mais para denegrir do que para classificar é que houve um enfraquecimento das atividades e estudos relacionados a ele. Chamar um filme, ou peça artística, de pós-moderno era na verdade o estar ofendendo

Descobri esse estilo artístico no cinema através do livro "Cinema Brasileiro Pós-Moderno - O Neon Realismo" de Renato Luiz Pucci Jr (entrevista) que acabei de ler e transcrevo aqui um trecho que explicita as características do cinema pós-moderno. O livro analisa o pós-moderno dentro da "Trilogia Paulista da Noite" formada por: "Cidade Oculta" de Francisco Botelho, "Anjos da Noite" de Wilson Barros e "A Dama do Cine Shangai" de Guilherme de Almeida Prado.

1) Oscilação entre narração clássica e recursos de linha modernista. Os filmes analisados são híbridos de ilusionismo clássico e distanciamento modernista.

2) Preeminência da paródia lúdica. O recurso mais utilizado para a obtenção de distanciamento é a paródia, com um aspecto lúdico que se traduz por um jogo não destrutivo com o hipotexto (a obra parodiada). Deixa-se de lado, portanto, a busca obsessiva da originalidade, própria do modernismo.

3) Caráter estetizante que não se esgota na procura do belo. A estetização opera não no sentido de criar a beleza e seduzir, embora esses efeitos estejam presentes. Como no Camp (estilo artístico kitsh), goza-se o fascínio do falso (fake), sabendo-o falso, o que constitui outra forma de distanciamento em relação à diegese.

4) Impureza em relação a outras artes e mídias. Em troca de esforço pelo "específico fílmico", ou ao menos pela sua aparência, o hibridismo transtextual transforma-se num valor positivo.

5) Relação conciliável e, ao mesmo tempo, não íntegra em relação à cultura midiática. Relações com o cinema de entretenimento, videoclipes e propaganda não constituem integração ao status quo. o ar respeitoso para com produtos da indústria do entretenimento e da publicidade não esconde que se empreende também sua contestação: os filmes se revelam enquanto discursos mesmo ao incorporar componentes do musicais americanos, do noir e de peças publicitárias, pois a combinação com recursos distanciadores produz, em maior ou menor grau, a quebra do ilusionismo. A paródia lúdica possui esse aspecto duplo e antitético: ela é definida como diferença irônica no âmago de semelhança e trangressão sancionada da convenção (Hutcheon, 1991, p.12). É sancionada porque não entra en choque destrutivo com os seus objetos, em geral produtos da cultura midiática, mas é trangressiva porque utiliza de forma descontestualizada.

6) Não-exclusão a priori do especator sem repertório sofisticado. Ao contrário do que ocorre com as variantes do cinema moderno, não existe exclusão prévia do grande público, pois sempre há elementos clássicos suficientes para que o espectador tenha a possibilidade de acompanhar as narrativas mesmo que não perceba ironia, paródia lúdica, distanciamento e anti-ilusionismo. por outro lado, basta que se "vejam as aspas", isto é, as marcas da ironia, para que os filmes adquiram outra configuração e, por consequência, outras possibilidades de entendimento.

7) Persistência da representação, com predomínio hipertextual. Não há o apocalíptico baudrillardiano, porque se permanece no domínio da representação. em vez de ocasionar a perda de referênciais, como supõem críticos mais acerbos, as representações de representações (devidas à hipertextualidade) podem produzir a compreensão do processo de construção narrativa ou de diferentes conotações do discurso que se enuncia. Também nesse aspecto há combinação entre representação clássica e denúncia da representação.




Imagino que você tenha ficado curioso para conhecer esses filmes. Então saiba que, por enquanto, na rede, só há "Cidade Oculta":

ed2k://|file|Cidade.Oculta.1986.VHSRip.XViD(emule.via.clan-sudamerica.net).avi|1468366848|3B3116F3FC59AFCEE6A3DA06AE5CC15F|/

Logo os outros dois também estarão disponíveis. E "Anjos da Noite" existe em dvd para comprar, achei por R$26,01 + frete no WallMart . Garanto que é uma ótima compra!

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